Muitos
anos antes do forte desenvolvimento intelectual trazido pelas complexas ciências
da natureza, os diferentes grupos sociais espalhados pelo mundo baseavam suas
leis e sua organização em doutrinas e crenças perpetuadas pelos mais antigos. Não
se sabia, até pouco tempo, o motivo de tanta credulidade. Hoje, já sabemos que
o cérebro humano procura histórias e explicações a tudo que vê. Em suma, o cérebro
do homem precisa crer em alguma superioridade (divindade) para funcionar. Mas seria
essa a única explicação para tantos crédulos em Deus ou seres soberanos?
As imagens xamanistas remetiam a cores por acreditar no poder de interferência das frequências eletromagnéticas no ser humano; imagem do site http://www.portais.org |
Há
uma curiosidade científica – que os céticos dizem ser mística – muito interessante
que perdura e não se explica até hoje. Vejamos um pouco do histórico:
As
crenças mais antigas do planeta são politeístas e espiritualistas. Desde antes
de Sócrates e Platão se tem relatos de teorias e doutrinas. Dentre todas as que
tiveram muito sucesso e conseguem adeptos até hoje temos o xamanismo, o
hinduísmo e o budismo – sendo as duas últimas mais recentes. Qual será a mágica
dessas religiões que tratam da transcendência da alma e da comunicação
espiritual?
O
xamanismo diz que tudo está conectado; todas as pessoas, todas as partículas,
todas as estrelas e galáxias; por fim, tudo no universo. O xamanismo também
previa que essa conexão possibilitava as comunicações mentais, que sempre
chamamos de intuições. Explicava ainda as inspirações; dizia ser interferência
espiritual. Essa doutrina pregava a perpetuidade da vida como espírito,
alegando que a vida terrestre não passava de uma passagem, que se repetia
inúmeras vezes – conceito conhecido como reencarnação, ou seja, renascimento em
novos corpos.
Meditação é a tradição mais conhecida do budismo; imagem do site http://andryshqueiroz.blogspot.com |
O budismo
e o hinduísmo pregam a alma como sendo algo transcendental à matéria. A alma,
para essas duas filosofias, é o que comanda o corpo e interage com o nosso
cérebro. Alma é sinônimo de consciência; é ela que anima o nosso corpo e é
responsável por todas as nossas percepções, mas se não conseguirmos
compreendê-la, não teremos capacidade de descobrir o real sentido da vida. O
budismo e o hinduísmo são doutrinas que pregam a reencarnação. A única diferença
entre essas duas é bem simples: o hinduísmo é politeísta; já o budismo não se
posiciona. Buda dizia ter falado com Deus em sua primeira longa meditação, mas
há até vertentes budistas ateias.
Deus hindu; imagem do site http://professorjbosco.blogspot.com |
Qual
a relação de tudo isso com a ciência? Estamos chegando lá!
Em
meio a grandes desenvolvimentos científicos, principalmente na área da física,
surge o espiritismo. Hippolyte Léon Denizard Rivail – conhecido popularmente como
Allan Kardec – começou a estudar fenômenos na França. Esses fenômenos,
batizados de mesas girantes,
simbolizavam comunicações inteligentes de algo. Rivail, como todo bom
cientista, era cético e começou o estudo para falsear a causa inteligente e mostrar
que tudo não passava de truque, mas, para sua surpresa, os fenômenos apresentavam
comunicação inteligente, lógica e coerente.
Allan Kardec escreve cinco livros com base em
comunicações espirituais. Sua tática para evitar charlatanismo foi bem prática
e simples: mandou cartas e conversou separadamente com diferentes médiuns,
considerando para divulgação apenas as partes coincidentes. Esses cinco livros
falam sobre muitos assuntos complexos, mas o que mais chama a atenção é que não
são conclusivos e não pregam nenhuma verdade absoluta. Pelo contrário, os
livros da codificação espírita trazem um mundo desconhecido e explicado
cientificamente com o que se conhece até a época. Para ter maior credibilidade,
ainda são previstas futuras teorias da humanidade e uma das declarações mais
importantes de Kardec diz algo como: “Se um dia a ciência provar algo diferente
do que está dito na codificação, abandone a doutrina e siga a ciência”.
Allan Kardec, codificador da doutrina espírita; imagem do site http://www.guia.heu.nom.br |
O primeiro – o livro dos espíritos – tratava de muitas dúvidas da humanidade e apontou
funcionamentos científicos nunca imaginados, o que dava margem a ceticismo.
Dentre tudo que é dito, o que mais se destaca é o funcionamento não local (instantâneo)
da informação e a telepatia, que também explicava o desdobramento espiritual.
Claro que os céticos ridicularizaram, zombaram e não deram atenção. Hoje, a
física estuda a comunicação telepática instantânea (entrelaçamento quântico,
fenômeno não local que tenta explicar o tele transporte da informação).
Já em A
gênese, Rivail descreve o seguinte:
“O mundo,
no nascedouro, não se apresentou assente na sua virilidade e na plenitude da
sua vida, não. O poder criador nunca se contradiz e, como todas as coisas, o
Universo nasceu criança. Revestido das leis mencionadas acima e da impulsão
inicial inerente à sua formação mesma, a matéria cósmica primitiva fez que
sucessivamente turbilhões, aglomerações desse fluido difuso, amontoados de
matéria nebulosa que se cindiram por si próprios e se modificaram ao infinito
para gerar, nas regiões incomensuráveis da amplidão, diversos centros de
criações simultâneas ou sucessivas.”
Não sinto necessidade de comentários. Hoje a
física tem como modelo da criação o big bang. Quem leu Os três primeiros minutos do universo de Steven Weinberg entenderá perfeitamente o que significa esse
pequeno parágrafo do livro.
Steven Weinberg, agnóstico, crítico da religião e vencedor do prêmio nobel de física de 1979; imagem do site http://zerobs.net |
Mesmo com tanto ceticismo e descrença, os
avanços científicos (em todas as áreas) sempre remetem a princípios básicos de
doutrinas espirituais. Interconexão do universo, telepatia, big bang. Sem
contar que o grande físico (e padre) Georges Lamaître foi o primeiro a falar na
grande explosão (parece até providência divina). O que falta? Ah, já sei!
Existência da própria espiritualidade. Será que é possível prova-la/refuta-la?
Bom, tudo andava a favor da teoria do nada (ver
último post) quando surgiu a teoria de cordas. É a teoria que unifica a
relatividade e a mecânica quântica, simplifica cálculos e explica o
funcionamento das ondas gravitacionais com perfeição. Sem contar na solução
para o funcionamento dos sistemas não locais (que sem as várias dimensões, não
tem a menor lógica). Além de tudo isso, prega a existência de 10 dimensões.
Exatamente, a espiritualidade está de volta em meio às novas teorias da física.
Matematicamente, quem vive em n dimensões
percebe facilmente n, n-1, n-2 e até uma dimensão com perfeição, mas quem vive em n-1 dimensões não pode nem interagir e nem compreender
o funcionamento de n dimensões.
Então, fisicamente e matematicamente possibilitadas, as teorias espirituais
dominam as mentes humanas. Podem ser refutadas? Com certeza. Desde que as novas
teorias físicas sejam refutadas e apareçam outras que expliquem, de melhor
maneira, certos fenômenos sociais de possível observação, mas de difícil cognição.
Essas teorias espirituais ainda diziam que a verdade universal, por ser força
fundamental do universo, está presente em tudo e, naturalmente, na consciência
do ser humano. Basta então voltarmos à introdução e marcar mais um ponto
negativo para a teoria do nada. O cérebro humano precisa sim de uma divindade,
mas não parece ser por simples caos. Parece
ser tudo efeito de uma perfeita programação do universo.
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