segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Lacunas do jogo da vida


Há alguns anos, o matemático John Conway criou um jogo para demonstrar que, a partir de poucas regras básicas, todo um universo poderia ser desenvolver. O jogo da vida de Conway (Conway’s game of life) não é um jogo de verdade, mas uma forma de analisar situações e desenvolver a lógica matemática. Um tabuleiro como o de xadrez (sendo que bem maior) de uma única cor deve ter quadradinhos pintados pelo jogador (aleatoriamente ou não) e, a partir daí, os quadradinhos parecem viver.
As regras são: sobrevivência (um quadrado pintado sobrevive se tiver dois ou três vizinhos pintados); aniquilação (um quadrado pintado desaparece se tiver mais de três vizinhos, um vizinho ou nenhum vizinho); e nascimento (um quadrado não pintado se pinta se tiver pelo menos três vizinhos).

 
Sequência de movimentação a partir da escolha de cinco quadrados. (http://www.bitstorm.org/gameoflife/standalone/)
 
Muitos dizem que algumas formas desenhadas no jogo parecem ter vida inteligente, mas sabemos que são situações programadas e aleatórias e que um conjunto de quadrados não está se perguntando quem criou o tabuleiro.
Esse jogo é utilizado por alguns cientistas como exemplo para mostrar que somos frutos do acaso e que algumas leis básicas são suficientemente poderosas para nos dar a impressão de que algum ser superior nos criou.
A hipótese não é ridícula, mas não explica muita coisa. O que é a consciência? O que é o pensamento? Por que as pessoas têm índoles diferentes? O que são os sentimentos? Como temos capacidade estudar e entender o mundo a nossa volta? A teoria sobre a criação defendida pelos cientistas ateus diz que todos os nossos atos são resultados aleatórios da matemática das partículas elementares.
Não, a respostas não é que Deus criou tudo e pronto. Esse modo de pensar acaba com todo o motivo do desenvolvimento intelectual. Dizer que tudo se resume ao bem e ao mal tira o propósito de incentivar a evolução intelectual da raça humana. Seria, na verdade, a prova de que somos maiores que Deus, pois podemos realizar coisas para as quais não fomos criados.
Existem dois pilares que sustentam a humanidade desde que ela existe e, sem um equilíbrio dos dois, o mundo fica torto (como está atualmente).
Somos seres intelectuais e conseguimos, a cada dia, ampliar o nosso conhecimento e aumentar a nossa capacidade de compreensão da vida. Mas, sem o desenvolvimento moral, a sociedade não teria alcançado tal ponto. Se o ser humano não se preocupasse com o próximo, a medicina não existiria e os conhecimentos de todas as ciências não teriam sido registrados. É impossível negar que somos seres sentimentais, respiramos sentimento o tempo todo.
Acontece que a hipótese científica que defende o ateísmo é puramente material. Tomando ela como verdade, qual seria a importância da moral? Por que temos que ajudar o próximo e fazer do mundo um lugar com mais igualdade a cada dia se no final nada disso vai fazer diferença? Ateus ou não, nós amamos e precisamos entender de onde isso vem.
Escolhendo agora uma teoria deísta e considerando que todas as leis científicas foram criadas por algo, independente de religião, esse “algo” nos deu regras de comportamento, implicitamente. Se esse “algo” existe, os sentimentos estão nas leis da ciência e nós vamos encontrá-los. Enquanto estudamos para isso, devemos seguir um código de respeito à vida. Não porque “algo” vai nos punir, mas, se é ciência, é como as forças elementares, existe e age segundo uma lei maior.
É totalmente perceptível que as nossas escolhas e atos não são obras do acaso, afinal, nós pensamos. Nós, humanos, temos capacidade de estudar, questionar, duvidar, agir e nos arrepender também. Se tudo que fazemos fosse resultado do acaso, o nosso cérebro mandaria informações aleatórias aos outros órgãos e nossas ações seriam um tanto estranhas.
Como no jogo da vida, somo frutos de um conjunto de leis primárias. É por isso que os cientistas estudam, para saber quais são elas. Mas, seja Deus ou Conway, algo as criou.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Princípio Antrópico

Tão curioso quanto os mistérios sobre o que acontecia antes de nascermos e para onde vamos após a morte é o do porquê de estarmos vivos e interagindo no universo. Existe, hoje, uma abordagem filosófica muito interessante sobre o tema, o princípio antrópico.
O princípio antrópico pode ser dividido em fraco e forte. Envolve uma ciência muito complexa, mas trata de previsões simples, apesar de importantes, como a idade do universo por exemplo. Como precisamos da formação do carbono para a nossa existência e o carbono precisaria de 10 bilhões de anos para proporcionar as condições atuais dos corpos celestes (dedução a partir de cálculos de física nuclear), notamos que essa é a idade mínima do universo. Sabemos também que há poucas formas de se produzir o carbono, então, a partir de analises mais profundas, os cientistas estimaram a idade do universo em aproximadamente 13,7 bilhões de anos.
Existimos graças a uma série de propriedades elementares e a um conjunto de acontecimentos bem específicos que vem se dando desde o big bang:

A grande expansão
Já aceita como explicação oficial do início do universo e correspondente a todas as observações atuais, a teoria do big bang guarda relações importantíssimas entre todas as forças da natureza. Se na singularidade (momento em que a densidade universal era muito alta e toda a matéria era confinada em um espaço muito pequeno), a temperatura fosse ligeiramente superior ou inferior, a expansão do universo teria sido muito mais rápida (maior temperatura) ou muito mais lenta (menor temperatura). Com relação à velocidade de expansão, se esta acontecesse com uma diferença de um sobre um quintilhão, ou seja, 0,0000000000000001%, o universo teria colapsado antes da formação dos compostos orgânicos (expansão lenta) ou seria frio demais e não formaria galáxias e sistemas solares (expansão rápida).

A gravidade
No caso da força atrativa entre os corpos massivos, uma variação de aproximadamente 0,1% no seu valor fundamental, as curvaturas do espaço-tempo seriam muito instáveis e os sistemas solares colapsariam em espiral ou escapariam de suas órbitas. Graças à gravidade e a distribuição de matéria no universo, existem as estrelas, as galáxias e os sistemas solares.

As explosões dentro das estrelas
O famoso processo triplo alfa é o que forma o carbono dentro das estrelas. Se as estrelas não tivessem a temperatura ideal no momento ideal para que as forças nucleares realizassem as transformações, não existiria o carbono, nem os compostos orgânicos nem as células e, consequentemente, não existiria a vida em lugar nenhum do universo.

Constantes elementares
Não fossem as interações entre as partículas pelas forças nucleares e eletromagnéticas, os átomos nunca teriam se formado. O curioso é que uma mínima variação na carga dos prótons e elétrons ou nas massas dos quarks, as perturbações nas interações se dariam de tal forma que o universo todo colapsaria ainda bebê.

Densidade energética do espaço
Depois da teoria da relatividade geral e da física quântica, os cientistas perceberam que o universo não era vácuo, mas sim um contínuo energético que comprovava mais uma vez a famosa equação de Einstein (. Essa energia é conhecida como energia escura que compõe o vazio visual do espaço, representada matematicamente pela constante cosmológica. Essa densidade energética, por acaso, também tem um valor tão exato quanto o que necessitamos para manter o bom funcionamento das galáxias e uma regularidade na expansão do universo.

Formação das galáxias, sistemas solares, planetas e momento de formação da vida
Agora que conhecemos todo esse conjunto de leis fundamentais, podemos analisar um pouco dos seus efeitos. Imagine que as primeiras estrelas tivessem iniciado a sua formação antes da época que o fizeram. Elas seriam muito maiores e mais densas, desenhariam curvas absurdamente acentuadas no espaço-tempo e explodiriam com muito mais agressividade. Teríamos muitos buracos negros engolindo estrelas e quase não existiriam galáxias e sistemas solares.
Não bastasse essa perfeição na formação dos corpos celestes e seus agrupamentos, cada sistema solar teve seus planetas lançados de seus sóis como gigantes rochas de elementos pesados e orgânicos que foram resfriando e estabilizando suas órbitas. No caso da Terra, único planeta que se tem conhecimento de vida inteligente, os seres humanos apareceram no momento ideal. Nossa aparição se deu na melhor idade do planeta, um momento em que a temperatura média possibilitava a nossa evolução e existia a atmosfera com todas as suas camadas protetoras. Claro que também, graças a Kepler, nossa aparição se deu depois do sumiço dos dinossauros, afinal, não seria nada amigável essa convivência.

Finalmente podemos concluir que houve uma série de coincidências importantíssimas e necessárias para que fosse possível o desenvolvimento da vida inteligente no universo. Seja tudo obra do acaso ou de um grande criador, devemos lembrar que ambas as hipóteses são possíveis e aparentemente fantasiosas, portanto, não podemos apontar alguma delas como absurda.
A teoria do acaso considera a existência de muitos universos e diz que nós somos frutos de uma estatística. Diz também que as nossas ações são resultados de complexas combinações matemáticas e que não temos livre-arbítrio, mas o nosso cérebro se engana e acha que somos conscientes de nossos atos. Segundo essa hipótese, essas combinações matemáticas que guiam o nosso comportamento seriam as interações de todas as partículas do nosso corpo, ou seja, os campos de força gerados por quarks, bósons, férmions. Dessa forma, nossos atos são frutos de uma estatística, o acaso.
Já no caso da existência de uma divindade, não existe uma única hipótese, mas vamos deixar de lado as teorias sem fundamentos e analisar o que apoia o criador cientificamente.
A densidade energética que permeia todo o universo é a força reguladora da expansão do cosmos e do movimento das galáxias. Essa força não é casual e tem um comportamento bem definido que ainda não foi compreendido pela física, mas não é somente isso que apoia um ser supremo. Existe algo que conecta todas as partículas materiais do universo e as comunica instantaneamente (e sem troca de qualquer tipo de matéria). Essas duas forças invisíveis e ilimitadas possibilitam e explicam, por exemplo, a vida espiritual. Acredita-se que a existência do espírito seria prova da grandiosidade de Deus.
Alguns deístas e ateus vivem em guerra achando que têm a verdade nas mãos, mas, infelizmente, a falta de desenvolvimento intelectual da humanidade torna essas discussões infundadas e desinteressantes.
O universo não é sobrenatural, mas as novas descobertas das leis da natureza causam essa impressão. A boa notícia é que tem “fantasias” para todo mundo (ateus, agnósticos e crentes), pois a ideia de um ser supremo é tão além da nossa compreensão quanto as estatísticas do multiverso e ambas são explicadas por um tipo de “magia” inicial. Será que o universo foi criado pelas flutuações quânticas? Ou elas que são produtos do universo? Foi Deus que deu o pontapé inicial? O que é Deus?