domingo, 9 de fevereiro de 2014

Associedade

Créditos: http://static.freepik.com/fotos-gratis/algemas_17-918141831.jpg
É notável para qualquer ser humano observador que as pessoas se tornaram mais preguiçosas com relação ao conhecimento. A chegada da tecnologia trouxe muitos benefícios e muito conforto à humanidade, como era de se esperar. O problema intrínseco dessa evolução foi a confusão gerada na cabeça da população. Conforto agora é sinônimo de ócio, mas não criativo.
Contrariando todo o objetivo natural da vida no universo, existimos sem nem o propósito de sobreviver. Consumimos e mantemos contato com substâncias e equipamentos que prejudicam o nosso corpo. Agimos, por conta desse vício em ter tudo do melhor, de maneira deplorável com o nosso próximo, o que pode levar – e tem levado – a humanidade ao colapso. Mas onde começa tudo isso? A culpa é da tecnologia, da ciência? Existe um culpado?
A construção da sociedade foi baseada em filosofias belíssimas de altruísmo e boa convivência. Os grandes filósofos milenares, a exemplo de Sócrates, ensinaram seus semelhantes a respeitar corpo e mente. Antes do desenvolvimento industrial, nas sociedades antigas, cultivou-se o ideal “corpo são, mente sã”. O planeta tinha tudo para desenvolver de maneira benéfica a toda a humanidade.
Não sabemos bem em que momento o quadro virou, mas é possível identificar certas teorias e certos comportamentos que travam o desenvolvimento intelectual e social das comunidades. A complicação – ou simplicidade – é que tudo está muito entrelaçado. Talvez o grande combustível da nossa falta de vontade de viver bem e imersos em felicidade e compaixão esteja localizado na educação básica.
Lembro-me que era bem comum, no ensino médio, ouvir questionamentos do tipo “que influência isso terá na minha vida? Não preciso saber disso”. Nossos professores, não tão bem preparados, não sabiam nos direcionar o pensamento ou mostrar a aplicação de cada coisa. Respostas comuns, com relação à gramática, eram: “Você vai precisar escrever um relatório ou um e-mail algum dia”. Com relação aos cálculos eram: “Você pode virar dono de uma empresa ou fará compras e precisará saber as operações básicas para cuidar das suas finanças”. Quanto às outras matérias, os argumentos eram muito parecidos: “você terá amigos e precisará saber conversar sobre coisas cultas”.
Ser culto é importante, claro. Cuidar do seu dinheiro e escrever um relatório também tem grande importância na vida de uma pessoa. Mas o grande foco do conhecimento não é viver cheio de bens materiais. Nossos professores já haviam sido criados em uma sociedade sem valores.
A importância de estudar, de ter conhecimento, está na compreensão da vida e do universo. Isso vale para toda e qualquer ciência. A interdisciplinaridade – muitas vezes incentivada, porém sem argumentação e racionalização – faz do homem um bom cidadão universal. Mas qual a importância de ser bom se tudo que eu preciso é viver com a “minha felicidade” e com a “minha tranquilidade”?
O problema está na falta de capacidade de compreender este simples texto que estou escrevendo. Não estudar de tudo tira a capacidade de aprendizado e fecha os horizontes do conhecimento para uma pessoa. Quando vivemos no egoísmo, acabamos tratando as pessoas de maneira perversa sem ao menos percebermos. Realizamos absurdos na vida social, no trânsito, na padaria, no supermercado. Essas nossas atitudes geram estresses e incômodos que, como a ciência já comprovou, são causas e “catalisadores” de muitas doenças.
Esse mesmo desinteresse com a humanidade se estende a outras áreas e prejudica, não só o próprio autor das obras, como os familiares e amigos. Ouço, com frequência, comentários do tipo: “o método A é melhor do que o método B porque o meu filho, depois que trocou de método aprendeu toda a tabuada”. O que aconteceu com essa criança foi a inibição da criatividade e o incentivo à sua capacidade de reprodução daquilo que vê. Temos mais um cidadão que não terá a capacidade de perceber que quando ele suborna um guarda de trânsito, ele está incentivando a não fiscalização por parte deles, o que implica na total falta de respeito às leis e, naturalmente, mais pessoas são atropeladas, por exemplo.
O grande problema está em não estudar aquilo que é novo. A tradição é considerada importante para a humanidade e, essa consideração, faz com que novidades revolucionárias que podem melhorar a vida de todos sejam descartadas e jogadas às traças, atrasando o nosso desenvolvimento. Isso sempre aconteceu na ciência e na política, um perfeito espelho da nossa confusão mental.
Por fim (para manter um texto relativamente curto, na esperança de que as pessoas tenham um mínimo interesse em ler e conhecer uma opinião a fim de estimular debates mais construtivos), podemos relacionar algumas atitudes que atrasam a humanidade e que devem ser pensadas por todos. Muitas instituições religiosas (que são todas ou quase todas baseadas em ensinamentos de profetas e filósofos) não ensinam filosofia e, consequentemente, “emburrecem” a população com a cultura do “porque sim”. Métodos ultrapassados de ensino não estimulam o pensamento e a criatividade dos alunos em nenhum momento do aprendizado, desde o ensino infantil até a universidade, resultando em profissionais cada vez mais reprodutores de livros que poderão facilmente ser substituídos por máquinas programadas no futuro (como já foram no passado). E, naturalmente, um governo que não investe na base do desenvolvimento social, mantendo suas ovelhas cada vez mais torcedoras de partidos e sem capacidade de raciocínio.