quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pseudociência

Quem participou de qualquer tipo de debate sobre as novas teorias da ciência ultimamente, com certeza, já ouviu o termo pseudociência. Há alguns anos, com o surgimento da física quântica, inúmeras crenças passaram a justificar seus dogmas a partir da incerteza trazida pela teoria e pelo funcionamento aparentemente sobrenatural do mundo subatômico. Em meio a essas justificativas, mais e mais céticos passaram a criticar todas as supostas teorias e o termo em discussão ganhou bastante força. Mas, a realidade é uma só, portanto, precisamos saber diferenciar o que estamos vendo do que gostaríamos de ver.
Antes de prosseguir, vamos ao significado de pseudociência.
Pseudo (falsa) – Ciência:
1)     É qualquer informação passada que se diz baseada na ciência, porém, que não deriva de nenhum método científico ou aplicação de teoria científica válida.
2)     Teoria que é tida como científica, mas que não tem embasamento científico real.
Apesar de serem definições bem simplificadas, são úteis para a discussão do tema, afinal, o próprio termo não deixa dúvidas a respeito do que realmente significa.
Partindo apenas da definição de pseudociência, já podemos ter uma leve ideia de como identificar essas falsas teorias, mas, o meu objetivo aqui não é ensinar a identificá-las e sim examinar o próprio termo que tem sido absurdamente mal empregado nos tempos mais recentes.
Do site: http://astropt.org/blog
Quando um livro de divulgação científica com teor técnico muito avançado é lançado, é incrível a quantidade de falsas interpretações que são divulgadas pelas redes sociais ou pelos próprios meios de comunicação mais comuns, como jornais e revistas. Essas interpretações, mesmo que erradas, devem ser discutidas. É assim que construímos conhecimento no mundo. Debatemos as interpretações que são lançadas por aí e vamos moldando nossos conceitos.
Não é muito diferente no meio científico. O que difere, levemente, é que os debates acontecem – na grande maioria – em conferências e seus argumentos têm forte embasamento científico e filosófico. Infelizmente, nos debates informais, a falta de informação predomina e, o desconhecimento da ciência básica faz com que as discussões percam todo o seu sentido e virem uma guerra entre certo e errado.
Comecei a pensar bastante sobre esse tema ultimamente, e vou explicar o porquê antes de entrar de fato no que quero defender. Tenho observado muitos debates em redes sociais e assistido a muitos vídeos sobre a origem do universo e da vida. Vejo, nessas situações, o termo pseudociência sendo utilizado o tempo todo e, na grande maioria das vezes, o termo não se encaixa no que está sendo contestado. Como os assuntos onde o termo aparece derivam, geralmente, de ciências exatas e biológicas, fui procurar saber quem eram as pessoas que estavam fazendo aquelas críticas de maneira tão segura e o que encontrei foi triste, porém compreensível. Essas pessoas, na esmagadora maioria das vezes, não tinham formação científica nem formação em áreas que trabalham com ciências exatas ou biológicas. Isso não significa que elas não têm o direito de discutir, claro, mas que elas devem, no mínimo, ter conhecimento básico para saber embasar suas ideias. A falta de conhecimento ficava obvia quando se citava alguma teoria básica da física ou da matemática e as pessoas nem sequer sabiam do que se tratava, por exemplo.
Do site: http://ahduvido.com.br


Ciência ou Pseudociência?

A astronomia – há poucos anos – se encontrava num beco sem saída. Após décadas de descobertas marcantes, não se sabia muito bem para onde a física estava levando o conhecimento sobre o universo. Os métodos matemáticos que resolviam problemas antes passaram a discordar das observações. Foi aí que grandes mentes tiveram de ser ousadas e em pouco tempo houve uma grande reformulação na forma como observávamos o universo. Foram postuladas a matéria escura e a energia escura.
Os efeitos visuais da matéria escura já foram observados, porém, a energia escura permanece difícil de compreender e detectar. Sabemos da existência da energia escura pelo simples fato de ela explicar, segundo a relatividade geral, o porquê de as galáxias girarem da forma que giram e o motivo de o universo manter uma expansão acelerada, mas ainda não passa de teoria, porém, aceita por todos (ou quase todos) os cientistas.
Não foi a primeira vez que algo assim aconteceu na história da ciência. Só no ramo da física, inúmeras partículas e campos foram postulados para explicar coisas que não podíamos compreender ou quando alguma observação não condizia com o conhecimento mais antigo. A parte mais interessante de tudo isso é que, com o passar do tempo, a maioria dos postulados foram comprovados. Imaginem então se os cientistas – como Higgs, Eisntein, Planck, Hawking, Schrödinger, Dirac, Newton, Weinberg, entre outros – não tivessem a coragem de dizer que algo deveria existir ali e atuar segundo certa lei matemática. Estaria a física parada no tempo?
Roger Penrose, matemático; http://www.math.uga.edu/seminars_conferences/penrose.jpg
O termo pseudociência é utilizado constantemente para invalidar certas teorias que tenham aparência religiosa. Digo aparência porque não são derivadas de chefes religiosos ou grupos religiosos. Essas teorias são criações de cientistas que tem ou não religião, como Lamaître – que era padre – e Goswami, Hammeroff ou Penrose – que tem suas crenças independentes de qualquer dogma. Devo dizer mais uma vez que, até hoje, em todos os casos desse tipo que pude analisar, o termo não era minimamente aplicável à teoria criticada.
Algumas teorias místicas, como os mais céticos adoram chamar, são baseadas em leis deterministas da física e derivam da real ciência, logo não podem ser chamadas de pseudociência. O fato de certas teorias não terem comprovação científica, não significa que são inválidas ou menos importantes. Assim como a energia escura foi postulada e assim permanece até hoje, a existência da consciência extracorpórea também é um postulado que condiz com todas as teorias físicas e biológicas conhecidas. Não só é razoavelmente baseada na ciência, como explica além do que a ciência pode explicar atualmente e nenhum experimento realizado na área da saúde, por exemplo, conseguiu diminuir sua importância. Então, porque chamar de pseudociência? Quem faz a pseudociência? Qual a diferença de importância entre postular a consciência e postular a energia escura?
Dentre os trabalhos que vi totalmente pré-julgados, os que mais me chamaram a atenção foram os de Andrew Newberg (sobre meditação e oração) e os de Sérgio Felipe de Oliveiria (que constrói um modelo de interação entre espírito e corpo). Chamaram-me a atenção por motivos razoáveis. Os trabalhos de Newberg são baseados em neuroimagens, o que já deveria ser suficiente para suspender as críticas, mas pessoas que são impulsionadas exclusivamente por suas opiniões e crenças não admitem mudanças no pensamento científico.
Já o trabalho do Dr. Sérgio é mais especulativo, porém, baseado na teoria de campos eletromagnéticos. Foi descoberto por ele que, a glândula pineal (órgão do cérebro humano) possui cristais de apatita, que são materiais diamagnéticos. Esses cristais, portanto, refletem e absorvem ondas eletromagnéticas sem que estas penetrem os seus interiores. Materiais diamagnéticos interagem com campos magnéticos com extrema facilidade e, portanto, as teorias do Dr. Sérgio podem ser facilmente compreendidas pela física e pela biologia.
Não vou me alongar nas teorias, afinal, não é esse o meu objetivo. Vamos à real pseudociência.
Andrew Newberg, neurocientista; http://puthu.thinnai.com/wp-content/uploads/2012/04/dr-andrew-newberg.jpg


A Verdadeira Pseudociência

Constantemente é dito que a física é e deve ser puramente materialista. Sim, essa é a sua definição inicial, sua etimologia. Porém, a física trata de energias, que tem um mecanismo peculiar e complexo e, muitas vezes, ainda desconhecido, como no caso da conversão entre matéria e energia ou a própria energia escura. Então, como podemos definir algo que não conhecemos e não aceitar alterações ao longo dos nossos estudos? Essa é a real pseudociência.
Pseudociência é a falsa ciência. Ora, negar postulados e teorias por pura crença é defender a falsa ciência. A ciência de verdade não tem preconceitos, apenas pede, para comprovação de teorias, a observação daqueles fenômenos. Mas, sabemos que a relatividade, por exemplo, funciona. Sua matemática rege com perfeição o macrocosmo, mas o tecido espaço-temporal nunca foi detectado. O bóson de Higgs, até o ano passado, era puramente teoria matemática. A dualidade onda-partícula ainda não foi completamente desvendada, mas estudos recentes mostraram que o sistema é onda ou partícula de acordo com a conveniência para ele, ou seja, escolhe a configuração que favorece seu deslocamento.
No livro O Fim das Certezas, Ilya Prigogine – nobel de química – mostra uma nova visão do universo, onde a estatística tem papel muito importante no desenvolvimento da história humana. Prigogine demonstra, matematicamente, que a quebra da simetria temporal ocorre naturalmente no universo e que a probabilidade não deriva apenas da mecânica quântica, mas da mecânica clássica também, quando escolhemos grandes quantidades para analisar. Deste trabalho, podemos tirar inúmeras conclusões. Basta compararmos com o nosso cérebro, que é um sistema de incontáveis variáveis e logo pensaremos em livre arbítrio dentro das probabilidades apoiadas pela própria física. Ou seja, sendo material ou não, a possibilidade de termos real livre arbítrio também não é pseudociência nem precisa estar no campo da metafísica. Daí muitos cientistas defenderem a teoria da livre escolha.
Como disse Friedrich Nietzsche, “e aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”. Essa declaração resume bem o pensamento comum da humanidade. As pessoas se baseiam, constantemente, em suas certezas que não tem menor fundamento lógico ou científico/filosófico e tentam convencer que o mundo é aquilo que elas querem ver.


O paradigma preconceituoso
Peter Higgs, físico que postulou o bóson de higgs; http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/02280/PeterHiggs_2280647b.jpg

Criou-se um preconceito de que a ciência que apoia a religião não é ciência de verdade, mas que qualquer teoria materialista é coerente e inteligente. Bom, mesmo os grandes cientistas da atualidade não costumam usar o termo pseudociência. Eles não usam esse termo e nem propagam esses preconceitos pelo simples fato de a ciência de verdade não ter desenvolvimento suficiente para definir respostas às questões mais complexas da vida e do universo.
A biologia não sabe de onde viemos. A física não sabe para onde vamos. A química não sabe por que estamos aqui. A psicologia não sabe o que somos. Enfim, as perguntas feitas no início da vida na Terra ainda não foram respondidas e assim continuarão por um longo período de tempo. Mas o ceticismo não pode atrasar o desenvolvimento da ciência como fez no passado, por isso é bom que nos mantenhamos sempre informados e pensemos muito bem antes de afirmarmos alguma coisa.
Por fim, quero lembrar que é bom sabermos diferenciar motivo de observação. Por exemplo, os hormônios do corpo e sua relação com nossos sentimentos formam uma observação, não um motivo, ou seja, os hormônios não são o porquê dos nossos sentimentos existirem. Os corpos adquirem aceleração a partir de uma força; isso é um motivo, que, em algum momento, já foi uma observação. A ciência vive de postulados (baseados apenas em matemática ou filosofia pura) e observações (baseadas em experimentos). É só com muito trabalho e relações interdisciplinares que essas teorias podem ser relacionadas à causa de alguma coisa.

“Somente um principiante que não sabe nada sobre ciência diria que a ciência descarta a fé.”
James Tour