Tão curioso quanto os mistérios
sobre o que acontecia antes de nascermos e para onde vamos após a morte é o do
porquê de estarmos vivos e interagindo no universo. Existe, hoje, uma abordagem
filosófica muito interessante sobre o tema, o princípio antrópico.
O princípio antrópico pode ser
dividido em fraco e forte. Envolve uma ciência muito complexa, mas trata de
previsões simples, apesar de importantes, como a idade do universo por exemplo.
Como precisamos da formação do carbono para a nossa existência e o carbono
precisaria de 10 bilhões de anos para proporcionar as condições atuais dos
corpos celestes (dedução a partir de cálculos de física nuclear), notamos que
essa é a idade mínima do universo. Sabemos também que há poucas formas de se
produzir o carbono, então, a partir de analises mais profundas, os cientistas
estimaram a idade do universo em aproximadamente 13,7 bilhões de anos.
Existimos graças a uma série de
propriedades elementares e a um conjunto de acontecimentos bem específicos que
vem se dando desde o big bang:
A grande expansão
Já aceita como explicação oficial
do início do universo e correspondente a todas as observações atuais, a teoria
do big bang guarda relações importantíssimas entre todas as forças da natureza.
Se na singularidade (momento em que a densidade universal era muito alta e toda
a matéria era confinada em um espaço muito pequeno), a temperatura fosse
ligeiramente superior ou inferior, a expansão do universo teria sido muito mais
rápida (maior temperatura) ou muito mais lenta (menor temperatura). Com relação
à velocidade de expansão, se esta acontecesse com uma diferença de um sobre um
quintilhão, ou seja, 0,0000000000000001%, o universo teria colapsado antes da formação dos
compostos orgânicos (expansão lenta) ou seria frio demais e não formaria
galáxias e sistemas solares (expansão rápida).
A gravidade
No caso da força atrativa entre
os corpos massivos, uma variação de aproximadamente 0,1% no seu valor
fundamental, as curvaturas do espaço-tempo seriam muito instáveis e os sistemas
solares colapsariam em espiral ou escapariam de suas órbitas. Graças à
gravidade e a distribuição de matéria no universo, existem as estrelas, as galáxias
e os sistemas solares.
As explosões dentro das estrelas
O famoso processo triplo alfa é o
que forma o carbono dentro das estrelas. Se as estrelas não tivessem a
temperatura ideal no momento ideal para que as forças nucleares realizassem as
transformações, não existiria o carbono, nem os compostos orgânicos nem as
células e, consequentemente, não existiria a vida em lugar nenhum do universo.
Constantes elementares
Não fossem as interações entre as
partículas pelas forças nucleares e eletromagnéticas, os átomos nunca teriam se
formado. O curioso é que uma mínima variação na carga dos prótons e elétrons ou
nas massas dos quarks, as perturbações nas interações se dariam de tal forma
que o universo todo colapsaria ainda bebê.
Densidade energética do espaço
Depois da teoria da relatividade
geral e da física quântica, os cientistas perceberam que o universo não era
vácuo, mas sim um contínuo energético que comprovava mais uma vez a famosa
equação de Einstein (. Essa energia é conhecida como energia escura que
compõe o vazio visual do espaço, representada matematicamente pela constante
cosmológica. Essa densidade energética, por acaso, também tem um valor tão
exato quanto o que necessitamos para manter o bom funcionamento das galáxias e
uma regularidade na expansão do universo.
Formação das galáxias, sistemas solares, planetas e momento de formação
da vida
Agora que conhecemos todo esse
conjunto de leis fundamentais, podemos analisar um pouco dos seus efeitos.
Imagine que as primeiras estrelas tivessem iniciado a sua formação antes da
época que o fizeram. Elas seriam muito maiores e mais densas, desenhariam
curvas absurdamente acentuadas no espaço-tempo e explodiriam com muito mais
agressividade. Teríamos muitos buracos negros engolindo estrelas e quase não
existiriam galáxias e sistemas solares.
Não bastasse essa perfeição na
formação dos corpos celestes e seus agrupamentos, cada sistema solar teve seus
planetas lançados de seus sóis como gigantes rochas de elementos pesados e orgânicos
que foram resfriando e estabilizando suas órbitas. No caso da Terra, único
planeta que se tem conhecimento de vida inteligente, os seres humanos
apareceram no momento ideal. Nossa aparição se deu na melhor idade do planeta,
um momento em que a temperatura média possibilitava a nossa evolução e existia
a atmosfera com todas as suas camadas protetoras. Claro que também, graças a
Kepler, nossa aparição se deu depois do sumiço dos dinossauros, afinal, não
seria nada amigável essa convivência.
Finalmente podemos concluir que
houve uma série de coincidências importantíssimas e necessárias para que fosse
possível o desenvolvimento da vida inteligente no universo. Seja tudo obra do
acaso ou de um grande criador, devemos lembrar que ambas as hipóteses são
possíveis e aparentemente fantasiosas, portanto, não podemos apontar alguma
delas como absurda.
A teoria do acaso considera a
existência de muitos universos e diz que nós somos frutos de uma estatística.
Diz também que as nossas ações são resultados de complexas combinações
matemáticas e que não temos livre-arbítrio, mas o nosso cérebro se engana e
acha que somos conscientes de nossos atos. Segundo essa hipótese, essas combinações
matemáticas que guiam o nosso comportamento seriam as interações de todas as
partículas do nosso corpo, ou seja, os campos de força gerados por quarks,
bósons, férmions. Dessa forma, nossos atos são frutos de uma estatística, o
acaso.
Já no caso da existência de uma
divindade, não existe uma única hipótese, mas vamos deixar de lado as teorias
sem fundamentos e analisar o que apoia o criador cientificamente.
A densidade energética que permeia
todo o universo é a força reguladora da expansão do cosmos e do movimento das
galáxias. Essa força não é casual e tem um comportamento bem definido que ainda
não foi compreendido pela física, mas não é somente isso que apoia um ser
supremo. Existe algo que conecta todas as partículas materiais do universo e as
comunica instantaneamente (e sem troca de qualquer tipo de matéria). Essas duas
forças invisíveis e ilimitadas possibilitam e explicam, por exemplo, a vida
espiritual. Acredita-se que a existência do espírito seria prova da
grandiosidade de Deus.
Alguns deístas e ateus vivem em
guerra achando que têm a verdade nas mãos, mas, infelizmente, a falta de
desenvolvimento intelectual da humanidade torna essas discussões infundadas e
desinteressantes.
O universo não é sobrenatural,
mas as novas descobertas das leis da natureza causam essa impressão. A boa
notícia é que tem “fantasias” para todo mundo (ateus, agnósticos e crentes),
pois a ideia de um ser supremo é tão além da nossa compreensão quanto as
estatísticas do multiverso e ambas são explicadas por um tipo de “magia”
inicial. Será que o universo foi criado pelas flutuações quânticas? Ou elas que
são produtos do universo? Foi Deus que deu o pontapé inicial? O que é Deus?